Ritualmente, não poderei nunca deixar passar em claro a data de 25 de Abril sem um texto que o assinale. Foi um evento tão importante que ainda hoje, trinta e cinco anos volvidos, continua a marginar a minha vida e a de muitos outros portugueses, senão de todos. Recordo que, há uns anos, passando perto de uma escola, ouvi um grupo de miúdos estarem a combinar encontrar-se dois dias depois. E um deles argumenta: “Depois de amanhã não porque a escola está fechada” “Está fechada? Porquê?” replica outro. “Porque 25 de Abril é feriado!” responde o primeiro, sem mais explicações. “Ah!..” faz o outro, sem sequer se perguntar se era dia de santo ou outra coisa qualquer. Senti que muito deveria ser feito para que o 25 de Abril não passasse a ser “um feriado” mas continuasse a ser um dia de comemoração da Liberdade e, como tal, um dia que tem que ser inteiramente dedicado a esse propósito. Sei também que há ainda algumas pessoas que rejeitam esta comemoração, porque os seus privilégios foram tocados com esse evento. São muito poucas pessoas, mas têm um poder bastante maior que o “comum dos mortais” e portanto um privilegiado acesso aos média. Só assim se justifica que se ouça ainda, de vez em quando, o seu velho protesto. Falam-nos dos excessos cometidos na sequência do golpe militar e do PREC (Processo Revolucionário Em Curso, como então se dizia) mas esquecem (porque nunca ou pouco os sofreram) os excessos cometidos antes do 25 de Abril pela ditadura que nos atormentou as vidas durante os anteriores 48 anos. E tão generoso foi (e, nesse particular, continua a ser) o 25 de Abril que ainda hoje essas pessoas têm voz, a voz que a ditadura sempre negou a todos os outros. Se houve excessos no período revolucionário, ninguém tem dúvidas mas, ao contrário das ditaduras, cada vez esses excessos foram sendo menos expressivos. Pelo contrário, as ditaduras, que muitas vezes até entram pela porta das eleições, têm como sequência serem cada vez menos eleitorais e cada vez mais duras e repressivas. À medida que a população vai tomando consciência da ditadura, vai tomando corpo a velha máxima proferida pelo Presidente Abraham Lincoln:
“Pode-se enganar todo o povo parte do tempo, Pode-se enganar parte do povo todo o tempo, Mas não se pode enganar todo o povo todo o tempo!”
Talvez que, de tempos a tempos, a modernidade venha do Novo Continente. Todos estamos a esperar isso de novo mas, não nos transformemos em espectadores passivos: o momento exige acção, colaboração e determinação: todos teremos uma palavra a dizer sobre o momento que se vive, e sobretudo sobre o futuro que se quer construir. Graças ao 25 de Abril tudo agora é mais fácil e simultaneamente mais difícil: mais fácil porque todos podemos (e devemos) tomar parte, mais difícil porque todos deverão ser ouvidos e levados em conta. Democracia é isso mesmo, tal como o mesmo Presidente Lincoln afirmou, no célebre discurso do dia em 19 de Novembro de 1863, na cerimónia de inauguração do Cemitério Militar de Gettysburg, no local onde se tinha dado a batalha do mesmo nome. Salvas as devidas distâncias, creio que hoje nos poderá servir de modelo, pelo que não resisto a transcrever o que é considerado como um dos mais brilhantes e estudados discursos de sempre. Durou cerca de dois minutos mas, como se costuma dizer, as boas essências vêm em frascos pequenos:
“Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais. Encontramo-nos actualmente empenhados numa grande guerra civil, pondo à prova se essa Nação, ou qualquer outra Nação assim concebida e consagrada, poderá perdurar. Eis-nos num grande campo de batalha dessa guerra. Eis-nos reunidos para dedicar uma parte desse campo ao derradeiro repouso daqueles que, aqui, deram a sua vida para que essa Nação possa sobreviver. É perfeitamente conveniente e justo que o façamos. Mas, numa visão mais ampla, não podemos dedicar, não podemos consagrar, não podemos santificar este local. Os valentes homens, vivos e mortos, que aqui combateram já o consagraram, muito além do que nós jamais poderíamos acrescentar ou diminuir com os nossos fracos poderes. O mundo muito pouco atentará, e muito pouco recordará o que aqui dissermos, mas não poderá jamais esquecer o que eles aqui fizeram. Cumpre-nos, antes, a nós os vivos, dedicarmo-nos hoje à obra inacabada até este ponto tão insignemente adiantada pelos que aqui combateram. Antes, cumpre-nos a nós os presentes, dedicarmo-nos à importante tarefa que temos pela frente – que estes mortos veneráveis nos inspirem maior devoção à causa pela qual deram a última medida transbordante de devoção – que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta Nação com a graça de Deus venha gerar uma nova Liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da terra.
ABRAHAM LINCOLN”
Texto da autoria de um bom amigo: Fernando Pinto
“Pode-se enganar todo o povo parte do tempo, Pode-se enganar parte do povo todo o tempo, Mas não se pode enganar todo o povo todo o tempo!”
Talvez que, de tempos a tempos, a modernidade venha do Novo Continente. Todos estamos a esperar isso de novo mas, não nos transformemos em espectadores passivos: o momento exige acção, colaboração e determinação: todos teremos uma palavra a dizer sobre o momento que se vive, e sobretudo sobre o futuro que se quer construir. Graças ao 25 de Abril tudo agora é mais fácil e simultaneamente mais difícil: mais fácil porque todos podemos (e devemos) tomar parte, mais difícil porque todos deverão ser ouvidos e levados em conta. Democracia é isso mesmo, tal como o mesmo Presidente Lincoln afirmou, no célebre discurso do dia em 19 de Novembro de 1863, na cerimónia de inauguração do Cemitério Militar de Gettysburg, no local onde se tinha dado a batalha do mesmo nome. Salvas as devidas distâncias, creio que hoje nos poderá servir de modelo, pelo que não resisto a transcrever o que é considerado como um dos mais brilhantes e estudados discursos de sempre. Durou cerca de dois minutos mas, como se costuma dizer, as boas essências vêm em frascos pequenos:
“Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais. Encontramo-nos actualmente empenhados numa grande guerra civil, pondo à prova se essa Nação, ou qualquer outra Nação assim concebida e consagrada, poderá perdurar. Eis-nos num grande campo de batalha dessa guerra. Eis-nos reunidos para dedicar uma parte desse campo ao derradeiro repouso daqueles que, aqui, deram a sua vida para que essa Nação possa sobreviver. É perfeitamente conveniente e justo que o façamos. Mas, numa visão mais ampla, não podemos dedicar, não podemos consagrar, não podemos santificar este local. Os valentes homens, vivos e mortos, que aqui combateram já o consagraram, muito além do que nós jamais poderíamos acrescentar ou diminuir com os nossos fracos poderes. O mundo muito pouco atentará, e muito pouco recordará o que aqui dissermos, mas não poderá jamais esquecer o que eles aqui fizeram. Cumpre-nos, antes, a nós os vivos, dedicarmo-nos hoje à obra inacabada até este ponto tão insignemente adiantada pelos que aqui combateram. Antes, cumpre-nos a nós os presentes, dedicarmo-nos à importante tarefa que temos pela frente – que estes mortos veneráveis nos inspirem maior devoção à causa pela qual deram a última medida transbordante de devoção – que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta Nação com a graça de Deus venha gerar uma nova Liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da terra.
ABRAHAM LINCOLN”
Texto da autoria de um bom amigo: Fernando Pinto
2 comments:
Olá Blue
Como já me habituaste, mais uma vez, o texto maravilhou-me.
Boa Noite
Teresa
há Abril neste post!
um cravo vermelho, de sincera admiração!!
;->>>
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